A Raízen pode estar próxima de uma importante mudança em um dos pilares de seu modelo de negócio com o final dos contratos de venda de energia a biomassa que comercializou em leilões para o mercado regulado. A empresa está se preparando para quando a capacidade de geração ficar descontratada e assim comercializar esse volume no mercado livre por meio da sua subsidiária lançada este mês, a Raízen Power.
“O mercado livre ainda tem muita margem para ser capturada e quem chegar mais rápido a esse ambiente consegue aproveitar essa oportunidade. Temos força de vendas, balanço e um setor que demanda o produto. E vamos aproveitar a jornada da descarbonização de clientes para oferecer nossas soluções em grandes clientes. Temos uma vantagem competitiva clara para nos posicionarmos no setor e captar esse crescimento que é gerador de caixa para a empresa”, comentou o CEO da empresa, Ricardo Mussa, após o Raízen Day 2023, realizado nesta quarta-feira, 24 de maio, em São Paulo.
Outro caminho que ainda pode estar próximo de ser seguido pela empresa é a da eletrificação de suas operações como forma de gerar mais caixa. E essa ação está relacionada com a expansão mais ampla do Etanol de segunda geração (E2G). Acontece que esse combustível concorre com a energia elétrica pela biomassa resultante da produção do Etanol e de Açúcar. Se a empresa recorrer a outras fontes de energia que já estão no grid, deixaria de consumir a biomassa em suas unidades e esses resíduos seriam utilizados para o novo combustível.
“Podemos comprar energia também se pensarmos com a lógica. A energia elétrica não viaja para a Europa por exemplo, então seria mais vantagem comprar energia do sistema, aproveitar a energia mais barata, produzir E2G que pagam mais pelo combustível e enviar para outros mercados”, disse ele, analisando que a liberação de biomassa das usinas próprias ajudaria na produção de combustível para exportação.
De acordo com dados do mais recente balanço da empresa, referente ao quarto trimestre de 2023, a empresa usa o ano base da colheita da cana de açúcar, que terminou agora em março. No total foram movimentados 21,6 GWh de energia, queda de 5,3% ante o período anterior. Foram gerados 4,2 GWh para consumo próprio e cogeração e 168 MWh da fonte solar e de outras renováveis. O restante foi resultado de comercialização e trading de energia. O preço médio no ano ficou em R$ 241/MWh, queda de 9,1%.
A empresa explicou que no ano safra, a redução na disponibilidade de biomassa impactou a geração de bioenergia e o volume de vendas de energia elétrica própria. O grande destaque foi o aumento de 81% no volume gerado de solar e outras fontes através da geração distribuída. Inclusive, o investimento em parceiras com outros geradores e projetos próprios também poderia ser um caminho para esse processo de eletrificação das operações.
Uma das formas que a empresa poderia ampliar sua capacidade de geração está na atração de sócios estratégicos como já vem ocorrendo na divisão de Power, explicou Mussa. Ele comentou que em energia essa solução pode ser viável, pois o setor está, segundo suas palavras, em ebulição e com gente interessada, porque a Raízen tem a base de clientes. “Buscamos alguém que acelere o crescimento em GD, o pipeline é enorme e queremos fazer isso sem prejudicar o balanço da companhia”, destacou o executivo.
O caso da Reverde, anunciado ainda na terça-feira, 23, destacou o vice-presidente da divisão Power, Frederico Saliba, permitiu a digitalização na forma da contratação da energia com o cliente residencial. E isso traz um grande potencial de venda de energia direta ao consumidor. Outra questão foi a gestão de consumo de ar condicionado, viabilizado nessa operação.
Contudo, para a Raízen, a geração de valor não está na produção de energia e sim na sua comercialização e relacionamento com o cliente. Mas não dá um número de qual deverá ser a participação da divisão nos negócios da companhia porque todas as outras áreas continuam a crescer.
Saliba, por sua vez, afirmou que a meta é de ser um agente relevante no setor elétrico com uma parcela de não menos que 10%, indicou. Essa fatia pode levar a empresa a ter 5 GW médios comercializados para todas as classes por meio da plataforma de recém lançada. Mas para alcançar os 6 milhões de clientes é necessário que o governo decida pela abertura do mercado livre para a baixa tensão. Enquanto isso não ocorre, o caminho é a venda por meio da GD.